A casa azul petróleo de Dona Amanda tem as paredes cobertas de relevos e reentrâncias, parece até que foi feita em uma fôrma cheia de cascos de tartaruga. Ela está debruçada em uma janela que, assim como a porta, é feita de uma madeira tratada e brilhante e toda contornada de branco, como uma moldura. Dona Amanda é uma senhora que já viveu muito, as raízes grisalhas dos cabelos combinando com a renda de sua blusa nos dão as pistas do tempo. Enquanto espera o momento exato para começar sua música-hino-poesia ela suspira, se debruça um pouco mais sobre a janela, faz batuque no batente e olha a chuva, com olhos de quem enxerga a vida. Sobre a sua cabeça, os números 30 à direita e 131 à esquerda indicam que a casa ainda não decidiu de que maneira deseja ser encontrada.